O marido, com uma chibanca empunhada no ombro, semelhante a um fuzil do mais potente dos militares, vai carregando o burro com as lenhas no lombo para, mais tarde, na solidão do alpendre a fogueira acender.
Vão os três adentrando o matagal para seus afazeres diários. O menino sente as pontas afiadas dos pedregulhos sob seus pés, porém, sente-se feliz por ali estar. A mãe, que dava o ar de sua graça como Luiza, cantarola à medida que despeja o milho na peneira. A voz dela é aguda e embargada de um tom romeiro como uma velha numa tenebrosa casa de milagres em busca de conforto espiritual.
Ela, então, avista um urucunzeiro. Caminha até ele com a sacola de palha e, repentinamente, uma luz rápida e intensa ofusca sua visão por entre as folhas. A mulher, curiosa ao extremo, lentamente afasta os galhos com a intenção de ver através deles... Nova emissão de luz realça as rugas profundas e angustiadas em seu rosto.
Fica ali, parada, olhando...
Escuta, não entende...
Faz de conta que não vê...
Do outro lado, uma bela jovem despida está com um pequeno e peludo cão entre suas pernas. O cachorro se incomoda com os focos de luz forte que o bombardeiam com eloqüência. A mulher bonita se inclina na pedra onde está apoiada e ergue o animal até a altura do seu busto. A língua quente do bicho contrasta com a frieza do entumescido mamilo da moça.
Ali, sob a brisa da manhã, todas as emoções são filtradas pelo voyeurismo frenético da lente de uma câmera.
por Marcos Riviere
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